ISRAEL: um ensaio

No dia 17 de Dezembro aterrei, para todos os efeitos, aterrorizado, no aeroporto de Tel Aviv, em Israel. A minha primeira vez no Médio Oriente, a sobrevoar um espaço aéreo com perigo iminente de um ataque de misseis. A minha primeira vez num país em guerra. Eu e 6 jornalistas europeus — espanhóis, eslovacos, croatas, alemães, gregos e búlgaros fomos convidados para uma semana intensa de reuniões, discussões e debates com altas figuras de Israel, desde embaixadores a decisores políticos, responsáveis por pastas ministeriais, directores de museus, fundações e associações locais, sobreviventes do massacre no dia 7 de Outubro, pais de reféns, judeus-israelitas, judeus ortodoxos, ultraortodoxos, arábes-israelitas, palestinianos-israelitas, beduínos, drusos, etc. Mas antes de articular melhor o que vivi durante estes 5 dias, com quem falei e a minha visão sobre o conflito, sinto que preciso de vos explicar o porquê de ter ido.

A razão que me levou a aceitar a viagem a Israel não é uma, mas antes várias. Não sou judeu. Não sou sequer particularmente religioso. Tal como a Sophia de Mello Breyner, a minha religião é para com o mundo e as coisas, e não para com um Deus. Também não sou jornalista, profissão que prezo. Acredito ter sido convidado por duas razões: a primeira prende-se com uma entrevista que dei há uns meses em que afirmei que o lugar do artista deve ser o da imparcialidade (diferente da neutralidade) perante o mundo para então poder discernir o certo do errado, o bom do mau, o caminho do atalho, com atenção a potenciais enviesamentos que se possa ter para os anular — olhar para o mundo da forma mais desprovida de julgamentos a priori; e a segunda deriva da primeira — estando a minha bússola moral calibrada para a imparcialidade, a visão de alguém que para todos os efeitos não tem lados neste conflito é uma visão desejada. Não tenho de apelar a nenhum dos lados por uma qualquer fieldade ou dever religioso.

No entanto, também não posso dizer que não tenho lados neste conflito. Perante esta guerra, e por várias razões que articularei mais à frente, posso dizer que o véu da imparcialidade com que tento calibrar as minhas acções cai, dando lugar à parcialidade da luta pelo Homem. O meu lado nesta guerra é pela Humanidade. Pela manutenção da vida como o factor primordial da coexistência. Esta foi a principal razão que me levou a aceitar o convite. Por saber que, por mais insignificante que seja o meu papel, uma árvore que caia no meio da floresta surte algum efeito, ainda que não haja ninguém para o testemunhar. Um artista disposto a colocar-se no meio do conflito para daí aprender, relatar o que viu e só então formular uma opinião, tendo por base se não todos a maior parte dos factos, pode não solucionar o problema, mas pelo menos é um passo na direção certa contra aquilo que foi a segunda razão para a minha ida.

A segunda razão que me levou a Israel foi a guerra, não necessariamente a militar, que estamos a viver desde o dia 7 de Outubro (ou, para bom abono da verdade, há mais de duas décadas), mas a outra, a guerra que eu acredito ter escapado por debaixo dos olhares desatentos dos Israelitas, preocupados em vingar os mortos, salvar os reféns e dizimar o Hamas, e que é a guerra da informação. Desde o dia 7 de Outubro que tenho seguido passo a passo o desenrolar da ação, em primeira instância, pelo twitter, agora conhecido como X, depois pelos orgãos de comunicação social, e por fim no telegram. Foi no twitter que vi pela primeira vez, no dia 7, os horrores perpetrados pelo Hamas.

Os videos dos sobreviventes no Festival Nova, em Re’im, os testemunhos dantescos do cenário na estrada 232, os tiros, os mísseis, os rpgs, as granadas. E depois, passado um dia, começaram a chegar os vídeos dos Kibbutz. Idosos assassinados nas paragens de autocarros em S’derot. Mulheres, Homens e crianças incinerados nas suas próprias casas. Pais mortos à frente dos filhos. Começarem também a chegar os primeiros relatos das acções macabras, criminosas e diabólicas do Hamas. Relatos e vídeos das câmaras GoPro, que os terroristas orgulhosamente ostentavam, mostraram um lado da existência humana que eu conhecera apenas em jogos de computador, em filmes e em livros de história. Um lado da natureza humana para o qual estava completamente ignorante. No entanto, a pouco e pouco, à medida que Israel foi ganhando terreno na contraofensiva em Gaza, tanto no twitter como na própria comunicação social, os vídeos começaram a desaparecer — um a um — e o discurso mudou: Israel já não era (e existem pessoas a questionar se alguma vez chegou sequer a ser) vítima de um terrível ataque terrorista — ataque esse que é apelidado pela maior parte dos judeus israelitas como o segundo holocausto — mas sim o principal agressor e contra quem as ações perpetradas pelo Hamas foram justas. Volto a repetir: justas.

Em Portugal, vimos e testemunhámos pessoas, jornalistas e outras figuras importantes com trabalho notável, rasgar as vestes do razoável e a vergarem a sua moralidade quando não só se recusaram a apelidar o massacre do Hamas de terrorismo como disseram que não julgavam os meios pelos quais os terroristas, e aqui cito de memória, resistiram aos supostos 75 anos de ocupação colonial e limpeza étnica. Um dos jornalistas foi o Ricardo Esteves Ribeiro, uma das principais caras do jornal Fumaça, pessoa que até aqui tinha em boa consideração, pelo trabalho de investigação que levara a cabo e pelas audioséries, muitas galardoadas das quais destaco a última “Desassossego” sobre Saúde Mental, “Dá-lhe gás” e “Palestina, um país ocupado”, a primeira que ouvi em 2018 e também a primeira do Fumaça. Esta última pinta uma excelente imagem daquilo que eu considero ser os abusos de poder por parte de Israel, nomeadamente no que toca à edificação do muro que separa os dois territórios palestinianos do território Israelita. Apesar de já termos tido disputas anteriores acerca do meu ensaio “Serei preto o suficiente”, e sabendo a priori a atitude do Ricardo perante a situação em Israel, fiquei atónito quando no rescaldo do massacre do dia 7 de Outubro, numa troca de tweets com a jornalista Fernanda Câncio em que esta lhe pergunta se ele escrevera “mesmo esta merda”, mencionando-se ao seguinte tweet do Ricardo:

“Parte da nossa esquerda não apoiaria os métodos para descolonização do PAIGC, do MPLA, do uMkhonto we Sizwe (África do Sul), dos Black Panthers, nem... da resistência ucraniana.”

pergunta à qual o Ricardo responde: “escrevi este post, sim” e Fernanda Câncio reitera a questão “portanto tu aprovas o metodo exibido ontem pelo hamas?” ao que o Ricardo responde: “Não tenho que aprovar, acho legítimo.”

Isto no dia 8. No dia seguinte escreve ainda: “Com isto quero dizer que apoio o Hamas? Não, não tenho que apoiar para achar legítimo. Tenho zero afinidade com eles, e acho- os, como já disse imensas vezes, ditatoriais, autoritários, etc. Mas tal como nas lutas anti-coloniais do século XX, têm a legitimidade de atacar colonos.”

Peço-vos que frisem esta última frase “têm a legitimidade de atacar colonos”.

No dia 7 de Outubro, o Hamas não atacou apenas Israel, esta massa homogénea abstrata. Porque Israel não é uma massa homogénea de absolutamente nada. O território de Israel é composto por 73% de judeus-israelitas e 23% de Árabes-israelitas. Sim. Beduínos, Drusos, Palestinianos. Muitos com família ainda em Gaza ou na Cisjordânia, mas que não abdicam da vida democrática que encontram em Israel.

No dia 7 de Outubro, o Hamas lançou um ataque coordenado não só contra Israelitas mas contra o seu próprio povo também, começando com milhares de mísseis de madrugada em direção a Israel, os arrombamentos da muralha na Faixa de Gaza e a invasão por ar e por terra contra as populações que rodeiam a faixa de gaza, chamadas Kibutzim. Os Kibbutz, ou onde moram os colonos como lhes chama o Ricardo, são populações as mais próximas daquilo que seria a utopia comunista. Pequenas comunidades agrícolas, povoadas por agricultores, em que a identidade colectiva ganha especial destaque. O sentido de dever para com a comunidade supera qualquer inclinação individualista. São vistos como um garante da ideologia de esquerda em Israel, assumindo um papel não só de tentativa de autosuficiência mas também fulcral para a sustentabilidade alimentar do território uma vez que são os Kibbutzniks que trabalham a terra e plantam a base da alimentação em Israel. No dia 7 de Outubro, o Hamas começou por massacrar o povo israelita mais dedicado não só à paz teórica, mas também à efectiva. Os Kibbutz empregavam dezenas de gazanos, que encontravam ali, naquelas populações, o trabalho que não encontravam em gaza e o respeito que não encontravam no Hamas.

O Ricardo, e dezenas de outros jornalistas e comentadeiros, frisaram vez e vez sem conta a “legitimidade de atacar os colonos”. Os Combatentes pela Liberdade, como lhes chamam. Vamos então ver, como nos disse o Ricardo, os métodos para a descolonização do HAMAS, que de certo foram os mesmo do PAIGC, do MPLA, do uMkhonto we Sizwe e dos Black Panters.

“Deitada de costas, vestido rasgado, pernas abertas, vagina exposta, cara queimada para lá de qualquer reconhecimento.” — É assim que começa uma das maiores investigações independentes levadas a cabo pelo New York Times, publicada no dia 28 de Dezembro, intitulada “How Hamas Weaponized Sexual Violence on October 7” — “De que forma instrumentalizou o Hamas a violência Sexual no dia 7 de Outubro?”

O video a que se refere a abertura desta investigação é um vídeo dantesco, um daqueles que vos disse no início que desapareceu das redes sociais e dos meios de comunicação para ser apenas encontrado em alguns grupos de telegram israelitas dedicados à memória das acções do Hamas. Não sei se consigo ou sequer se deva descrever-vos os cenários maquiavélicos que vejo nestes vídeos.

A reportagem continua. 2 meses de investigação, sustentados em vídeos, fotografias, dados de GPS dos telemóveis encontrados, entrevistas com mais de 150 pessoas que

incluem testemunhas e sobreviventes, pessoal médico, soldados e conselheiros de violação.

Aquilo que se seguirá serão algumas das descrições que poderão encontrar na reportagem. O link para todos os artigos, reportagens ou outros escritos que utilizar estarão na descrição do episódio. Alguns dos artigos são pagos. Caso escolham, os artigos, até os pagos, estão todos em PDF na minha página do Patreon que podem também encontrar na descrição do episódio. É a forma mais imediata de apoiar este podcast.

**Pode, e de certo conterá, linguagem ou cenas suscetíveis de ferir a sensibilidade dos ouvintes.**

Passo a citar:

“A primeira vítima que ela diz ter visto foi uma jovem com cabelos cor de cobre, sangue a escorrer-lhe pelas costas e as calças pelos joelhos. Um homem puxou-a pelos cabelos e fez com que ela se curvasse. Outro penetrou-a, disse Sapir, e cada vez que ela se encolhia, espetava-lhe uma faca nas costas.”

“Viu outra mulher a ser “esquartejada”. Enquanto um terrorista a violava, outro puxou um x-ato e mutilou-lhe o seio.”

“Um continuou a violá-la e o outro arremessa o seio para outro terrorista, eles brincam com ele, atiram-no e ele cai na estrada” “os homens cortaram-lhe a cara e a mulher caiu da estrada, para fora de vista. Mais ou menos na mesma altura, disse ela, viu três outras mulheres violadas e os terroristas a carregar as cabeças decepadas de outras três mulheres.”

“As suas mãos estavam amarradas atrás nas costas” “Ela estava curvada, seminua, com as cuecas enrolada abaixo dos joelhos.”

Perto da estrada, disse ele, encontrou o corpo de uma jovem, de bruços, sem calças nem cuecas, com as pernas abertas. Disse que a área da vagina parecia ter sido cortada, “como se alguém a tivesse rasgado”.

Descobertas semelhantes foram feitas em dois kibutzim, Be’eri e Kfar Aza. Oito médicos voluntários e dois soldados israelitas disseram ao The Times que em pelo menos seis casas diferentes encontraram um total de pelo menos 24 corpos de mulheres e meninas nuas ou seminuas, algumas mutiladas, outras amarradas e muitas vezes sozinhas.

Um paramédico de uma unidade de comando israelita disse ter encontrado os corpos de duas adolescentes num quarto em Be’eri. Uma delas estava deitada de lado, disse ele, com a cueca rasgada e hematomas na virilha. A outra estava esparramada no chão com as calças do pijama puxadas até aos joelhos, o rabo exposto e o sémen espalhado nas costas.”

Fim de citação.

A reportagem continua. Cruzam a informação dos relatos com os relatórios de GPS dos telemóveis das testemunhas, das fotografias e dos vídeos para se certificarem que a informação é válida. Bate tudo certo. Os vídeos que eu vi também. Muitos das GoPros dos próprios terroristas, muitos das câmaras de vigilância dos Kibbutzim e das fábricas e muitos dos primeiros a responder, civis, paramédicos, soldados. Vi cabeças cortadas. Troncos com a cabeça explodida. Bebés chacinados. Idosos executados. Jovens a fundirem-se com os carros de tão incinerados. Vi fotografias de autópsias. Vi vídeos das mãos de testemunhas e mais importante caminhei pela estrada 232. Visitei o kibbutz Kfar Aza, Be’eri, e re’eim o local do Festival. Vi os abrigos de bombas que albergaram dezenas de jovens, a quem o Hamas atacou com granadas, rpgs e metralhadoras, dos quais fizeram vídeos, que também vi. Vi os vídeos dos sobreviventes desses ataques. Alguns em choque sem uma perna. Outros mortos. Vi como, ao longo da estrada 232, ainda existe a memória, impressa no chão, dos carros incinerados e daquelas pessoas de que vos falei a fundirem-se com eles. E não falamos de meia dúzia. Falamos de centenas. Sente-se ainda o cheiro. Vi como ficou o kibbutz Kfar Aza, uma das visões mais... dantescas não é o adjectivo certo pois nem o próprio Dante seria capaz de imaginar um círculo no Inferno cujo castigo fosse aquilo que ali tomou lugar. Vi fotografias de mulheres queimadas dentro de casa. Estive nessas casas. Os terroristas do Hamas, armadilhados de armas, rpgs, Stingers, granadas termobáricas e ódio, acima de tudo ódio, desenharam um rasto de destruição que envergonha o Diabo. Não falamos de ataques aéreos indiscriminados, falamos de execuções olhos nos olhos, de mutilações olhos nos olhos, falamos da corrupção humana ao expoente máximo da sua podridão.

Mas “têm legitimidade para atacar os colonos”. O problema é que não se limitaram a atacar os colonos, Ricardo. Mataram muitos palestinianos. Mulçumanos devotos, mulheres vestidas com o Hijab.

Quero relembrar a estas figuras, pelas quais perdi todo o respeito que tinha, que o líder do partido de oposição mais à esquerda (Ra’am), um partido árabe, no knesset — o parlamento israelita — disse numa entrevista no dia 7 de Novembro à Radio Árabe Al- Nas que o massacre de 1400 pessoas do dia 7 de Outubro e passo a citar “vai contra tudo aquilo em que acreditamos, a nossa religião, o nosso Islão, a nossa nacionalidade, a nossa humanidade” e ainda que as acções do Hamas “não representam a sociedade Árabe, nem a população palestiniana nem a nação palestiniana”. Isto dito pelas pessoas que lutam todos os dias por uma solução de dois estados. Uma solução de coexistência com, muitos, a própria família, a viver ainda ou em Gaza ou na Cisjordânia.

Disse que a segunda razão que me levou a Israel foi a guerra da informação, guerra essa que acredito estar a ser ganha pelo Hamas. Como vos disse, estes vídeos, e muitas provas fotográficas não foram divulgadas à imprensa nem colocadas nas redes sociais por escolhas hierárquicas. E as que foram, foram rapidamente apagadas, sendo agora muito difícil alguém conseguir deparar-se sobre o que quer que seja sobre o massacre do dia 7 de Outubro. Isto aconteceu por razões que se devem, sobretudo, aos deveres religiosos judaicos, ao sentimento de perda, de vergonha e ao caos. Tudo isto fez com

que as provas desaparecem, o que levou ao esquecimento de algumas pessoas, ao negacionismo de outras, mas mais importante — fez com que a resposta de Israel ao massacre, em Gaza, pudesse ter o foco completo das câmaras, e, ao contrário do que aconteceu com as filmagens do massacre em Israel, as filmagens do massacre, dos mísseis e da guerra em Gaza são amplamente difundidos.

Um dos heróis de Gaza, como ficou conhecido, é o jornalista **MoTaz.** Na sua página de Instagram ou no X podemos ver vídeos explícitos dos ataques aéreos israelitas. São imagens igualmente horripilantes. De um mundo que não parece o nosso. Vemos crianças debaixo dos escombros. Vemos mulheres e homens esmagados. Tanques. Explosões. Snipers.

Uma vez mais, a minha posição é inequívoca - a resposta é a humanidade - e o Hamas não pode ser deixado à solta, a manter o povo palestiniano refém do mais obscurantista fundamentalismo religioso — a questão é a que custo? A que custo?

**Ahmed Fouad Alkhatib** é um cidadão americano, natural de Gaza, analista político do Médio Oriente, que escreveu um artigo de opinião intitulado “**Why Did Israel Kill My Family in Gaza and Destroy My Childhood Home?” — Por que razão terá a minha família sido morta e a minha casa de infância destruída por Israel?”**

É um relato cru, genuíno e em primeira pessoa de um gazano que viu a sua família ser morta num ataque aéreo israelita. Morreram 50 pessoas. “Não houve confrontos armados, tropas terrestres israelitas, nem presença verificada do Hamas nas proximidades.” A descrição e linha de questionamento do modus operandi da IDF e das motivações israelitas para o ataque, muitas vezes indiscriminado, em Gaza, do Ahmed estão em sintonia não só com muitos palestinianos que veem diariamente a sua vida ser destruída, mas também com a minha, porque se o Hamas, como força terrorista que é não segue as convenções de guerra, escondendo-se por entre a população, construindo túneis por debaixo de hospitais e escolas, financiados por dinheiro sujo do QATAR, utilizando o gazano comum como escudo humano, tem então de partir da IDF, a Força de Defesa Israelita, como uma força militar convencional, com responsabilidade moral, política e internacional, o respeito não só pela lei do direito humanitário internacional mas como também pelo direito à guerra justa.

O que parece não estar a acontecer. Só assim se justificam as mortes de dezenas de jornalistas. Só assim se justificam as mortes indiscriminadas de cidadãos. Alguns, decerto, apoiantes do Hamas, mas muito não.

Não sejamos simplórios também, nenhum de nós, sentados no conforto do sofá, em casa, ou na cama, sabe como se processa uma guerra no terreno. O que vivi em Israel foi o mais próximo que tive. Correr para a segurança dos bunkers, em Tel Aviv, porque as sirenes que sinalizam os mísseis começaram a tocar, ouvir o confronto entre o Iron Dome e os mísseis vindos de Gaza no céu, sob a nossas cabeças, ver Gaza em chamas, ouvir apaches, artilharia e morteiros. No entanto tenho a noção de que é substancialmente diferente do que estar na frente da batalha onde as decisões têm de ser tomadas ao segundo. A única coisa que sei é que não é preto no branco, e ainda

menos preto no branco se torna quando o inimigo que se combate — neste caso o Hamas — foi capaz de instrumentalizar o ódio de alguns gazanos (em alguns aspectos ódio válido) pelos israelitas, tomando assim partido do caos, escondendo-se entre os demais.

Uma das várias questões, que me tem assombrado bem como a quase todos os israelitas desde o dia 7 de Outubro, que coloquei ao vice-diretor da Diplomacia do Ministério dos Negócios Estrangeiros — **Emmanuel Nahshon, foi:** como é que alguém que é pro- israel, naquilo que representa para a presença democrática no médio oriente, lida com a informação de que o governo de Netanyahu, eleito na base da segurança, sabia de um ataque iminente e escolheu não fazer nada? Como é que os relatórios dos serviços secretos egípcios e as diversas comissões sobre segurança que apontavam para uma probabilidade acentuada de um ataque terrorista foram ignorados?

A resposta foi, em primeiro lugar, que isso era mentira... e em segundo lugar, que afinal não era mentira, mas que tinham sido e passo a citar: “missread”. Mal lidos. Indesculpável.

Mas mais. Como é que Israel, conhecido por ter o sistema de segurança mais famoso, seguro e fiável, explica o que aconteceu na madrugada de dia 7 de Outubro? Esta é a questão para a qual não há resposta ainda aos dias de hoje e que futuro ter ditado o fim da carreira de Netanyahu. Falamos de um sistema de segurança infalível, melhorado ao longo de vários anos, com sensores no chão no lado de Gaza, que alertam quando algo tão pequeno como um gato caminha por eles, uma barreira subterrânea de cimento para prevenir túneis, arame farpado, câmaras, radares, sensores e uma arma que só pode ser traduzida como “olha e dispara”, e como o próprio nome indica, reconhece um alvo em movimento, mira e dispara sem qualquer intervenção humana.

Como, como é que foi possível então, no dia 7 de Outubro, o Hamas ter violado em 7 locais distintos o muro sem avisar o exército por horas? O Hamas teve a liberdade de horas, não falamos de uma, não falamos de duas, falamos de pelo menos 10 horas ininterruptas, para chacinar quem quer que fosse que lhes aparecesse à frente. Como?

Os israelitas, a ala esquerda, liberal, sentem-se profundamente debilitados pois são acusados pela ala mais radical, à direita, de que os sonhos de uma coexistência com os palestinianos, atribuindo-lhes autorizações de trabalho em Israel, foram o precursor do que se passou no fatídico dia 7. A resposta errática de Netanyahu, na esperança de salvar a sua carreira política à beira do colapso, está a dar aso a uma das maiores crises humanitárias de sempre do Médio Oriente.

Tenho ainda mais questões: se na passada semana, no Líbano, Israel, supostamente, foi capaz de levar a cabo o assassinato de um dos superiores do Hamas em plena cidade de Beirute, sem provocar danos colaterais nem mortes colaterais, evitando assim também arrastar o Líbano para um confronto regional — o que falta para este tipo de acção cirúrgica no que toca ao Hamas em Gaza? Bem sei que a resposta não é tão simples como aparenta, mas é uma questão válida de se fazer. Informações confidenciais erradas, regras de abordagem e de combate inconsistentes, a utilização de ataques

aéreos israelitas em áreas civis densamente povoadas e a aplicação de um poder de fogo esmagador para apoiar o avanço das tropas provocam constantemente a perda desnecessária de vidas palestinianas que nada têm que ver com o Hamas. Lembremo- nos que a IDF matou, por engano, três reféns que abanavam bandeiras brancas. Pergunta que fiz ao porta-voz da IDF, na visita ao Kibbutz Kfar Aza, e à qual obtive uma incapacidade de resposta. Engoliu em seco e disse “We have no ideia what happened”. “It’s the war”.

Se até erros destes são cometidos contra os próprios israelitas, imaginem os erros que não se cometem contra palestinianos.

Portanto à questão: a que custo?

Neste momento o custo está a ser demasiado alto. O bem-estar dos palestinianos em Gaza está diretamente relacionado com a segurança dos Israelitas. E o Hamas sabe disto, tal como sabe Netanyahu, o que faz parecer estar a haver um conluio sinistro.

Em 2006 o HAMAS ganhou as eleições e logo a seguir realizou um golpe de estado sangrento. Os terroristas atacaram membros de grupos palestinianos rivais como o Fatah, que governa a cisjordânia – atirando-os de edifícios e matando-os à queima- roupa pelas costas, antes de arrastarem os seus cadáveres pelas ruas. E depois nunca mais voltaram a ter eleições. O que garantiu a sua continuação no poder em Gaza até hoje, independentemente do bem ou do mal que trouxeram aos palestinianos. E a verdade é que foram ajudados... e bem ajudados. Relembro mais um artigo do New York Times em que se desvenda os milhares de milhões de doláres, vindos do Qatar, pagos ao longo de décadas com o conhecimento de Netanyahu, ao Hamas, como uma espécie de aposta... por um lado, Netanyahu tinha esperança de que a entrada corrente de dinheiro mantivesse a paz em Gaza e por outro que os fizesse investir na governação do território, de facto, ao invés de na guerra. Sabemos hoje onde foi investido esse dinheiro.

Volto ao **Ahmed Fouad Alkhatib.** Ele tem sido uma das vozes mais importantes, sensatas e racionais em todo este conflito, apesar de ter tido a família morta por Israel. Ahmed sabe, e tenta dizê-lo ao povo palestiniano, que o primeiro passo para que os israelitas e os palestinianos possam vir a coexistir tem de ser encontrar um parceiro democrático com quem se possa dialogar no lado da palestina. Ele relembra um acontecimento que começou a circular de novo em que o presidente do Fatah, na Cisjordânia, Mahmoud Abbas, aquando do desenrolar da guerra entre o Hamas e Israel em 2014, se dirigiu ao presidente do Egipto El-Si e lhe pediu que avançasse com uma proposta de cessar-fogo, proposta a que El-Si concertou apesar de desprezar tanto o Hamas como o seu berço ideológico a Irmandade Muçulmana. O cessar-fogo restaurava as decisões anteriores a 2012 entre Israel e o Hamas e traria paz para os gazanos e para a faixa de Gaza. O Hamas rejeitou-a profusamente e reivindicou condições absurdas nomeadamente o estabelecimento de um aeroporto, um porto marítimo e um levantar completo do bloqueio. Condições absurdas pois não oferecia quaisquer contrapartidas a Israel. Não renunciava à violência, não concordava com um cessar-fogo a longo prazo e mais importante recusava-se a estabelecer um governo sólido, unificando a Faixa de

Gaza com a Cisjordânia. A guerra continuou por 51 dias, tendo morrido 2200 palestinianos desnecessariamente uma vez que o Hamas, no final desse tempo, acabou por aceitar o mesmo acordo de cessar-fogo, sem o aeroporto, sem o porto marítimo e sem o fim do bloqueio.

Entrámos num empate técnico: por um lado, se Netanyahu decide parar com a ofensiva como tem estado até agora, voraz, indiscriminada e, para todos os efeitos, desumana... terá de se haver com o facto de não terem ainda sido encontrados nem os reféns nem um caminho para a paz, logo afigura-se-lhe o fim, a perda de popularidade e, como se tem visto em Israel pelas manifestações e pelos apelos dos outros partidos, o desmoronamento da sua carreira política. Ao mesmo tempo, o Hamas, ao instrumentalizar os gazanos contra Israel, utilizando-os como escudo para depois abanar a bandeira internacional de genocídio e limpeza étnica está a adiar o inevitável: no que toca à faixa de Gaza e aos gazanos, o seu domínio e legitimidade acabaram. A propaganda que expeliram durante anos enganou quase todos os países árabes, bem como a própria Cisjordânia, que nunca teve de viver com as consequências terroristas da governação do Hamas, mas, desde o dia 7 de Outubro, será para sempre desprezado pelos gazanos por ter iniciado uma guerra desnecessária e completamente evitável.

Voltámos à situação de 2014, com a apresentação de uma nova proposta de cessar-fogo por parte do Egipto. A proposta, noticiada no dia 25 de Dezembro pelo Aljazeera, apresenta um plano de tréguas para a troca de prisioneiros palestinianos por reféns israelitas, um mês de negociações para discutir a troca de prisioneiros militares israelitas por mais prisioneiros palestinianos, ao mesmo tempo que o egipto lideraria os esforços numa campanha para unificar as facções palestinianas, nomeadamente o Hamas e o Fatah que em conjunto apontariam um governo que governasse o território palestiniano como um.

O Ahmed escreve num tweet o seguinte “É claro que a prioridade é pôr um fim imediato ao terrível bombardeamento e à conduta horrível, por vezes criminosa, da IDF em Gaza. Mas o papel, as acções, as decisões e as prioridades do Hamas estão inexoravelmente ligadas à actual guerra e miséria dos palestinianos. O eventual cessar-fogo exigirá pressão sobre o Hamas para que chegue a um acordo, aceite as suas responsabilidades e pague o preço necessário para salvar o que resta de Gaza e dos gazanos. Apelo àqueles que apoiam as vidas palestinianas e querem ver o fim do horror – por favor compreendam o terrível papel do Hamas no desastre actual e não deem ao grupo o benefício da dúvida. Eles merecem ser cruelmente condenados e fortemente pressionados para agirem rapidamente e acabarem com a morte desnecessária do seu povo em Gaza.”

GAZA

Não sou ativista político. Não sou um ativista religioso. Não me considero ativista por nada nem por ninguém a não ser por mim próprio e pela Humanidade. A ser ativista, sou-o pela manutenção da Humanidade, pelos ideais que a democracia europeia nos deu, sou um ativista pela racionalidade, pelo humanismo, pelo progresso e pela ciência. Os marcos do Ocidente.

Mas, no entanto, tanto quanto nos é possível testemunhar, o ocidente está neste momento perante um ataque: um ataque às instituições, um ataque à memória histórica, um ataque aos ideais que construíram e fundaram a democracia. A luta pela Palestina, à semelhança de quase todas as lutas fomentadas pelas esquerdas democráticas, tem-se embrenhado sempre numa amálgama de outras lutas. Tal como aconteceu ao Dia da Mulher, que já não é só a luta pela Mulher, mas também pelo anticapitalismo. A marcha feminista já não é só a marcha feminista, mas também anti- racista e contra as alterações climáticas, também as manifestações a favor da palestina não são apenas manifestações a favor da palestina, não... tornaram-se manifestações anti-israel, anti-judeus, contra o grande capital e, mais absurdo do que tudo isto, amalgamaram o movimento LGBTQIA+ com os Queer for Palestine.

Comecemos pelo que me parece ser mais absurdo e que é exatamente este último. É um movimento de índole LGBTQIA+, como o próprio nome indica, com a particularidade de ser também levado a cabo maioritariamente por pessoas da ala esquerda partidária. A associação de movimentos pro-LGBTQIA+ a movimentos, por exemplo, comunistas por si só é um oxímoro, mas deixemos essa tecnicalidade para outro dia.

Uma das visitas que fiz, no meu tempo em Israel, foi exatamente a Beit Dror. Beit Dror foi o primeiro centro de emergência terapêutico para jovens LGBT em Israel. Foi fundado pela associação Ethot e dispõe da supervisão e cooperação do Ministério da Providência, Trabalho e Serviços Sociais. Este centro serve vários propósitos. É um abrigo temporário para jovens dos 12 aos 18 anos em situações de risco por serem LGBTQIA+ — violência familiar, iminência de morte, maus-tratos. Alberga 16 camas e os jovens podem ficar por um período máximo de 6 meses. Oferecem outros serviços, em conjunto, lá está, com o Ministério dos Serviços Sociais do Governo israelita, que procuram colmatar o problema a partir da raiz — trabalham em conjunto com os jovens e com os seus pais, seja através de consultas, seja através de aconselhamento familiar ou até mesmo terapia, para que estes possam voltar a ser aceites no seio familiar. Têm uma grande taxa de êxito. Vale também a pena destacar a população que mais albergam ou cujos pais mais colocam entraves à aceitação de um filho LGBTQIA+ — os árabes-israelitas. Estão efectivamente a batalhar contra um dos paradigmas que se tem provado mais difícil: a mudança das mentalidades de muitos fundamentalistas religiosos, não só muçulmanos, mas também judeus ultra-ortodoxos. No entanto não albergam apenas israelitas. Os responsáveis contaram-nos como já albergaram muitas crianças palestinianas que conseguem fugir às garras não só do Hamas mas como também da própria família. Perguntei-lhes o porquê? Porque razão fugiriam as crianças da faixa de gaza e da cisjordânia para encontrarem abrigo em Israel. A resposta foi lacónica.

“Se sabem que és homossexual, atiram-te de um telhado.”

Contaram ainda a história de como albergaram um jovem durante alguns meses, que fugira da família e em busca não só de paz e da liberdade de poder ser quem era, mas também de melhores condições, de um local onde pudesse ter direitos e deveres — aspirações que se repetem vezes e vezes sem conta. Alguns meses depois, estando este jovem a viver agora em Israel, a família descobriu onde, raptaram-no e, de volta à

Cisjordânia, cortaram-lhe a cabeça. Este tipo de relatos não só não se ouve nos meios de comunicação social como vai de encontro àquilo que o ocidente acha que acontece à comunidade LGBTQIA+ em Gaza e entra em direto confronto com o movimento Queer for Palestine que vemos inundar as ruas.

Uma das questões que lhes coloquei foi exatamente essa: como é que eles, a primeira organização fundada em Israel para acolher jovens LGBTQIA+ em situações de emergência, se sentiam ao olhar para os seus homólogos na Europa e na América, para as associações, para as organizações, colocarem-se ao lado da barbárie que é a forma como são tratados os homossexuais, as pessoas trans, as pessoas queer, etc, em território palestiniano, não só pelo Hamas mas também pela própria PLO e pela cultura homofóbica do Islão? Como é que eles explicavam este completo virar costas e a envergadura de cartazes a dizer “Queers for Palestine”?

A resposta foi sucinta e cito “são estúpidos”.

No dia 1 de Dezembro de 2022, o mundo acordou em choque quando no programa do Alex Jones, o Kanye West proferia as seguintes palavras “Todos os humanos trazem algo de valor para cima da mesa, especialmente o hitler” e o que se seguiu foi um dos discursos mais antissemitas que tivemos oportunidade de testemunhar, característica que o Kanye havia já mostrado em Outubro, tendo perdido na altura parcerias com marcas como a Balenciaga, a Gap e outras.

O que vimos levantar-se foi uma indignação como nunca antes vista — a esquerda europeia e os liberais americanos não perderam tempo não só a cancelar o Kanye West como a articular o quão perigoso e comum tem sido a retórica anti-judeu nos discursos extremistas da direita radical. Toda a gente se insurgiu contra a leviandade com que aquelas palavras foram proferidas, intelectuais, professores, outros artistas. Testemunhávamos a legitimação de um discurso fascista por parte de um dos maiores rappers e artistas do séc. XXI. E depois... aconteceu o 7 de Outubro de 2023.

A resposta civil foi quase imediata e esmagadora. Organizaram-se e em pouco mais de um dia estavam na rua as manifestações a pedir pela libertação da palestina. No entanto, aquilo que testemunhámos, e que não teria qualquer problema se se tivesse mantido como um grito de guerra a favor da libertação de um povo, não foi só isso. No melhor das minhas habilidades linguísticas e tendo em consideração a História, posso dizer que foi uma espécie de retorno a 1941. O ódio antissemita, enquanto motivo de vergonha, viu ali um escape. As mesmas pessoas que apontaram o dedo ao Kanye West, que se consideravam esquerdistas e não perdiam uma oportunidade de apontar o antissemitismo dos partidos de extrema-direita foram as primeiras a ir para a rua. O que se seguiu foi um retorno civilizacional. Voltaram a ser entoados cânticos fascistas: “Morte aos Judeus”; “Gaseiem os Judeus”; voltaram a ser envergados cartazes da mesma espécie como os que vemos no museu de memória ao holocausto Yad Vashem, que visitei em Israel. Cartazes em que vemos a estrela de David no lixo com o texto ao lado a dizer “Mantenham o mundo limpo”. O ataque reiterado a judeus nas ruas. Começaram a ser arrancados repetidamente cartazes que pediam o retorno dos reféns que foram levados para Gaza. Os comércios judaicos foram atacados, alguns destruídos. Voltou-se a marcar onde viviam judeus, com a estrela de David a ser grafitada à porta

das suas habitações ou das suas lojas. Foram décadas, e décadas de alertas para o perigo iminente da direita, para o perigo iminente da extrema-direita antissemita para no final testemunharmos a materialização da Teoria da Ferradura, em que ambos os extremos – direita e esquerda, convergem.

No dia 5 do passado mês de Dezembro, três diretoras das três mais importantes universidades dos Estados Unidos, MIT, Harvard e Penn foram ouvidas no senado.

A todas foi colocada a questão pela congressista Elise Stefanik: “Does calling for the genocide of jews violates [your university’s] code of conduct or rules regarding bullying or harassment?”
Clamar pelo genocídio de Judeus viola os códigos de conduta da faculdade ou as leis no que toca a bullying ou assédio?

Uma pergunta simples e pertinente, pois, havíamos visto, ao longo dos últimos dois meses, um ódio desenvergonhado pelo judeu que não víamos há décadas a ponto de deixar os alunos judeus destas universidades a temerem pela sua vida em muitos casos.

Todas responderam “it depends on the context”. Num mundo onde a luta legítima de um povo, neste caso palestiniano, serve como escape ao ódio nazi, fascista e desumano, tornando-se este apenas efectivamente consequente dependendo do contexto é um mundo com o seu código moral do avesso, principalmente quando é o mesmo mundo que clama pela implementação de “espaços seguros” e está no progresso no que toca à inclusão das minorias.

No livro Hitler’s Table Talk, um livro que agrega todos os discursos, devaneios e conversas informais do Hitler quando no conforto e na intimidade, longe do público, vemos de que forma Hitler se dirigia aos judeus, com que adjectivos os pintava e de que forma legitimava a sua exterminação.

“Eu sempre disse que os judeus são as criaturas mais diabólicas que existem e, ao mesmo tempo, os mais estúpidos.
Eles não podem produzir um músico ou um pensador. Nenhuma arte, nada, menos que nada. Eles são mentirosos, falsificadores, bandidos. Devem o seu sucesso apenas à estupidez das suas vítimas.

Se o judeu não fosse mantido apresentável pelo ariano, ele estaria tão sujo que não conseguiria abrir os olhos.”

“Passarão uns bons trezentos ou quatrocentos anos antes que os judeus voltem a pisar a Europa. Retornarão primeiro como touristas e, gradualmente, serão encorajados a estabelecerem-se aqui para nos explorarem melhor. Na etapa seguinte, tornar-se-ão filantropos e doarão a fundações. Quando um judeu fizer isso, será especialmente notado porque se sabe que são cães sujos.”

Apelar-se à libertação da Palestina, é diferente de apelar-se à erradicação de Israel, que é o conluio a que temos assistido ultimamente. Israel é o garante, o único estado democrático que o Médio Oriente tem. O único estado democrático em que populações radicalmente diferentes podem sequer pensar em conviver em busca de um futuro mais

sustentável. Falamos de um local onde moram Judeus-Israelitas, Árabes-Israelitas, Judeus-Ultraortodoxos, Palestinianos-israelitas, muitos com família na Cisjordânia e em Gaza. A resposta para a sustentatibilidade dos Palestinianos não é a erradicação de Israel, mas sim uma parceria democrática válida. Achar que resolvemos um dos conflitos geopolíticos mais complexos dos últimos 30 anos com simplismos como “palestina livre” ou “fim à ocupação” quando do outro lado não existe um parceiro democrático viável com quem entrar em negociações ou a quem sequer entregar o destino dos palestinianos, é ingénuo. O terror, fomentado pelo fundamentalismo religioso do Hamas, fomentado pelos poderes de uma potência como o Irão, tornam os palestinianos reféns do seu próprio destino.

Quero acreditar que um dia ambos serão livres. A minha semana em Israel foi passada a falar não só com judeus, mas também com árabes israelitas, beduínos, drusos palestinianos-israelitas e em todos, da esquerda à direita, há uma vontade de coexistência pacífica. Temos de deixar de colocar nas mãos de quem não tem mais do que interesses próprios o nosso próprio destino, o destino dos nossos países e, mais importante o destino da nossa humanidade.

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